COMO A IA GENERATIVA ESTÁ REDESENHANDO O MERCADO DE TRABALHO
ESTUDOS REVELAM OS MAIS EXPOSTOS À AUTOMAÇÃO, AS DESIGUALDADES DO IMPACTO E OS CAMINHOS EMERGENTES NO MERCADO DE TRABALHO
Publicada em
A chegada da inteligência artificial generativa à rotina de empresas, escritórios e plataformas digitais gerou uma das perguntas mais urgentes da atualidade: a IA é uma ameaça para os empregos ou uma janela para novos caminhos profissionais? Pesquisas recentes de instituições internacionais e brasileiras mostram que a resposta não é simples e depende de fatores como o tipo de ocupação, o grau de digitalização da empresa e o nível de qualificação dos trabalhadores.
Empregos mais afetados pela IA generativa
Estudos da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e do MIT revelam que a IA generativa impacta principalmente tarefas repetitivas, cognitivas e istrativas. Isso inclui cargos como assistentes istrativos, redatores de textos padronizados, analistas financeiros, atendentes de call center e revisores de documentos.
As profissões que exigem criatividade original, habilidades sociais complexas ou capacidade de julgamento contextual tendem a ser menos afetadas. Funções técnicas com aplicação prática também se mantêm mais protegidas, como as áreas da saúde, engenharia de campo e educação presencial.
Diferenças entre as metodologias da OIT e do MIT

Para entender o impacto da inteligência artificial nos empregos, é essencial analisar as metodologias utilizadas pelos estudos mais influentes, como os da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e do Massachusetts Institute of Technology (MIT). Embora ambos tenham o objetivo de mapear os efeitos da IA generativa no mercado de trabalho, eles adotam abordagens distintas.
A OIT utiliza uma metodologia centrada em tarefas, baseada em dados da O*NET (Occupational Information Network), dos Estados Unidos. O foco está em identificar quais atividades específicas dentro de cada ocupação são mais suscetíveis à automação por IA generativa. A partir disso, estima-se o grau de exposição das profissões à tecnologia. Essa abordagem permite observar impactos mais amplos em diferentes contextos socioeconômicos, como foi feito no estudo adaptado ao mercado brasileiro pela consultoria LCA/4Intelligence.
Já o MIT adota uma perspectiva mais técnica e empírica. Pesquisadores da instituição analisam capacidade real dos modelos de IA atuais, como GPT e outras tecnologias de linguagem natural, para executar tarefas com nível de precisão comparável ao humano. Em seus estudos, o MIT mede diretamente a eficiência da IA em contextos reais de trabalho, combinando testes laboratoriais com dados de produtividade e desempenho empresarial.
Enquanto a OIT oferece uma visão mais ampla e socioeconômica, o MIT fornece uma avaliação prática e tecnológica, que ajuda a identificar quais setores estão na linha de frente da transformação digital.
Quais setores ganham com a IA?
Com base em pesquisas publicadas pela McKinsey & Company, pelo MIT, pela OIT e por outras instituições, é possível observar que empresas dos setores de tecnologia, serviços financeiros, publicidade, educação digital e logística estão entre as mais beneficiadas pela IA generativa. A possibilidade de automatizar partes dos processos criativos, de atendimento e de análise de dados permite ganhos significativos de eficiência e produtividade.
Um dado que chama a atenção no estudo da OIT é o detalhamento quanto ao nível de qualificação dos trabalhadores e ao grau de exposição à IA generativa. Nesse caso, os resultados revelaram que, quanto maior o grau de instrução, mais exposto está o trabalhador. Outro ponto destacado é que países com renda mais alta — e com maior proporção de trabalhadores qualificados — apresentam índices mais elevados nos graus de risco.
O cruzamento dos dados, com base nesses parâmetros, mostrou que 13,1% dos trabalhadores estão no maior risco de exposição, enquanto a fatia é de apenas 0,8% entre os menos qualificados.
Já o estudo da McKinsey & Company aponta que a adoção de IA pode aumentar a produtividade global em até 3,3 trilhões de dólares ao ano. Organizações que já utilizam a tecnologia relatam redução de custos, maior rapidez em entregas e melhores experiências para clientes.
Impacto no Brasil: alerta e oportunidade
No Brasil, a preocupação também é crescente. Um estudo da LCA Consultores, em parceria com a 4Intelligence, que adapta a metodologia da OIT a partir dos microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e que inclui 435 ocupações, estima que cerca de 31,3 milhões de empregos brasileiros podem ser impactados, o que representa 36,6% da força de trabalho nacional.
As profissões mais expostas no país incluem cargos istrativos, operacionais e de apoio. Por outro lado, áreas como tecnologia da informação, gestão de dados, design, educação e atendimento personalizado tendem a se expandir com o avanço da IA.
O avanço da IA generativa no Brasil revela não apenas riscos ocupacionais amplos, mas também desigualdades específicas por gênero, faixa etária e localização geográfica. De acordo com o estudo da LCA Consultores, as mulheres têm mais chances de serem expostas aos impactos da tecnologia. No grau mais elevado de risco identificado na pesquisa, a proporção é de 7,8% entre as mulheres e de apenas 3,6% entre os homens. Esse cenário se deve, em grande parte, à maior concentração feminina em ocupações istrativas, consideradas de alto risco de automação.
Na análise por faixa etária, os dados mostram que, à medida que a idade avança, aumenta a presença de trabalhadores em funções menos expostas à tecnologia. Cerca de 60% dos profissionais com 50 anos ou mais não devem ser afetados pela automação, enquanto, entre os mais jovens — de até 39 anos — a proporção de baixa exposição varia de 48,9% a 51,5%.
O estudo também identificou discrepâncias regionais relevantes. O Distrito Federal lidera o ranking das unidades da federação com maior percentual de trabalhadores impactados (8,2%), seguido por São Paulo e Rio de Janeiro. Em contrapartida, o Maranhão apresenta o menor índice (3,8%). Entre as regiões brasileiras, o Centro-Oeste é a mais afetada, com 5,9% de trabalhadores em alto risco, resultado que considera fatores como grau de instrução e nível de qualificação profissional.
Esses recortes evidenciam que o impacto da IA não é homogêneo e exige estratégias específicas de adaptação, especialmente voltadas à capacitação de mulheres, à inclusão intergeracional e à redução das desigualdades regionais frente à transformação digital.
Segundo pesquisas da PwC Brasil e da EY, mais de 70% dos executivos brasileiros acreditam que a IA exige requalificação intensiva dos profissionais, e mais da metade dos trabalhadores teme os efeitos da automação em suas carreiras.
Qualificação como caminho

Se por um lado a IA substitui certas tarefas, por outro ela cria novas funções, cargos e demandas. Profissionais capazes de trabalhar com a IA, interpretar seus resultados e utilizá-la com pensamento crítico serão cada vez mais valorizados.
Portanto, a resposta à pergunta inicial a por uma ação coordenada entre governo, empresas e instituições de ensino: é urgente investir em educação tecnológica, formação em competências digitais e políticas de transição laboral para garantir que a IA seja uma aliada na evolução profissional, não um obstáculo.
SALA DE BATE PAPO